terça-feira, 31 de maio de 2011

Churrasco (Grill)

Como dito anteriormente, um bom gaúcho não pode viver sem o seu churrasco e por isso começamos a ver os preços de churrasqueiras portáteis, a carvão. Resolvemos, então, perguntar ao nosso senhorio se poderíamos usar churrasqueira na sacada do apartamento. É proibido! Risco de incêndio. Vários casos ocorreram de incêndios causados por churrasqueiras a carvão em apartamentos, foi o que disseram. Vai daí que Herr Heine nos emprestou a churrasqueira elétrica, o “grill”. Nada comparado a nossa realidade de churrasqueiras brasileiras, mas satisfez nossa vontade de comer um churrasco. Na realidade, mais um ritual do que um verdadeiro churrasco. Carne de gado, por exemplo, é uma raridade. Entretanto, lingüiças têm aos montes. E muita carne de porco. E assim é o nosso churrasco, claro que muito bem acompanhado pela maionese da Sônia!




Feliz Páscoa! Frohe Ostern!

A Páscoa dos alemães foi para nós uma grande surpresa. Diferentemente do Brasil e daquele festival de ovos abarrotando os supermercados e lojas e da histeria das pessoas, aqui tudo é muito calmo e comedido. No supermercado onde fazemos nossas compras, apenas uma prateleira com coisas de Páscoa. Nas lojas tudo muito discreto. Na televisão, muito pouca apelação. Desta forma, nossa Páscoa foi tranqüila e econômica. Apenas uma barra do maravilhoso chocolate Milka para cada um. O toque de surpresa ficou por conta dos Heine. Ao sairmos de casa nos deparamos com dois pequenos ninhos deixados por eles para as crianças. Mais uma das muitas amabilidades do nosso senhorio. Outra coisa que nos chamou a atenção foram os chocolates em forma de insetos: besouros e joaninhas. Achamos engraçados e um tanto estranhos! Além disso, nos ninhos das crianças havia ovos de galinha pintados, como os que existem no Brasil, aqueles com amendoim açucarado dentro. Só que para nossa surpresa eram ovos cozidos!






Maibaumfest

Primeiro de maio, feriado, caiu em um domingo. Além do dia do trabalho é também o “Maibaumfest”, algo como a festa da árvore de maio. É que a véspera, 30 de abril, é a noite das bruxas deles, a “Walpurgisnacht”, herança das crenças pré-cristãs. Nesta noite as pessoas se reúnem ao redor de fogueiras e comemoram o final de abril, com seu clima ainda instável, e o início de maio, mais quente e com dias maiores. Não participamos de nenhuma comemoração noturna. Entretanto, lá estávamos nós, no primeiro de maio, em Neuburgweier, outro “Stadtteil” de nossa cidade, comemorando a “Maibaumfest”. Com direito a música ao vivo e muita cerveja e sorvete.






Gutembergschule (Escola)


As crianças estudam na Gutembergschule. Uma das únicas escolas que aceitavam estrangeiros que não falam o idioma alemão. Rafael e Déborah estudam em uma classe especial juntamente com outras crianças estrangeiras, de várias nacionalidades. Aliás, a escola tem, na maioria, estudantes de outras nacionalidades, como se pode ver no cartaz. Depois de um início difícil, os dois estão acostumados com a nova rotina e se comunicam bem, em alemão, com os colegas. Na escola eles têm inúmeras atividades como corte e costura, arte, cinema e vídeo, curso de alemão e aula de português com uma professora de Portugal. Claro que ficam sobrecarregados, sem falar que nunca haviam estudado pela manhã, o que requer que deitem cedo, antes das nove. Isto é um problema porque o sol está se pondo depois das nove e anoitece realmente depois das 22 horas.







“Pluminhas do Mal”

Quem não lembra na sua infância daquelas “flores” (plumas) que nasciam na grama e no mato e que a gente soprava e elas voavam para todos os lados? Pois aqui a coisa é complicada. Imaginem a “atmosfera” tomada por estas “plumas”. A gente pedalando e as plumas entrando, literalmente, nariz adentro, boca adentro. Rafael as apelidou de “pluminhas do mal”. Para quem tem alergia é uma beleza! Aliás, nos sites de previsão do tempo deles tem uma seção sobre este assunto, “Biowetter”, onde eles apresentam os tipos de pólen e a sua intensidade. Curiosos podem ver no link: http://www.meinestadt.de/rheinstetten/wetter. Para se ter uma idéia, são tantas plumas que no chão, acumuladas, parecem neve!





Fahrrad (bicicleta) e o trânsito alemão



Foi difícil nos acostumarmos com o trânsito alemão. Nossas primeiras saídas de bicicleta foram cheias de cuidados, principalmente com as crianças. Foi difícil acreditar que aqui o pedestre e o ciclista têm prioridade. E os motoristas param para tudo e todos. E respeitam os limites de velocidade dentro das cidades. Não existem acidentes, xingações, todos respeitam os sinais. Se estamos de bicicleta em uma rua onde não existe ciclovia e temos que andar junto com os carros, este esperam pacientemente a oportunidade de ultrapassar-nos, a baixa velocidade. Entretanto, as ciclovias são outra mania alemã. Estão por todos os lados e lugares. E as bicicletas podem ser levadas nos bondes e trens. É um direito do ciclista. Além disso, as bicicletas são todas equipadas com farol e sinaleira, para deslocamentos noturnos. Se formos flagrados sem sinaleira ou farol, pagamos multa, como um veículo qualquer. E desta forma a maioria das pessoas se desloca de bicicleta: para o trabalho, para o supermercado, para a escola. Em todos os lugares existem estacionamentos para bicicletas. As ciclovias, quando margeiam as “Autobahns” (vias expressas) são separadas por divisórias. Quando as ciclovias cruzam as ruas mais movimentadas existem sinaleiras. E todos respeitam o sinal. Como no cartaz em alemão: “Beispiel geben. Bei Rot stehen. Bei Grün gehen.” Algo como: dar o exemplo. Esperar no vermelho. Seguir no verde. Se os alemães quisessem, quase não seria necessário o uso do automóvel. E olha que a Alemanha tem um automóvel para cada dois habitantes. É muito carro!
Novamente nos vem à cabeça a realidade das cidades brasileiras: trânsito caótico e nenhum investimento em transporte alternativo, como ciclovias, por exemplo. Lembramos da tímida iniciativa de interligar os parques de Porto Alegre (Parcão, Redenção e Marinha) com uma ciclovia. Se bem nos lembramos, não resta mais nada de sua sinalização nos dias de hoje. E os investimentos não contemplam esta alternativa. Poderíamos ter uma ciclovia, paralela ao traçado da terceira perimetral, ligando Teresópolis ao Aeroporto. Seria muito fácil! Esperamos que com a duplicação da Avenida Edvaldo Pereira Paiva, a Beira Rio, o poder público pense nessa alternativa.






Straßenbahn (Bonde)


Os bondes. Karlsruhe e seus arredores (assim como a maioria das grande e médias cidades alemãs) são atendidas por inúmeras linhas de bondes, isto mesmo, os velhos e bons bondes que foram desativados no Brasil. Claro que veículos modernos, em comboios. De onde moramos vamos ao centro, à universidade e à escola das crianças, de bonde. Se quisermos ir a outro lugar, descemos de um bonde e pegamos outra linha. E tudo isso sem roletas, sem cobradores, com nossos cartões mensais que muito eventualmente são solicitados por algum fiscal. Podemos nos deslocar para todos os lados, e não somente de bonde, mas também de ônibus. Tudo interligado, quantas vezes quisermos. E os horários então: em cada estação (Haltestelle) existem cartazes com os horários em que os bondes passam. Por exemplo, oito e quarenta e oito. E não é que o bonde passa às oito e quarenta e oito? Em ponto!

Este sistema de transporte nos faz refletir sobre a polêmica do transporte em Porto Alegre, principalmente agora com o advento da Copa de 2014. Por pressões da indústria automobilística, em plena ditadura militar, as cidades brasileiras desativaram um sistema de transporte barato e não poluente, em nome da modernização. A desativação do sistema de bondes também foi o primeiro passo para o desmantelamento de nossa estrutura urbana, privilegiando o transporte individual, com a construção de viadutos, túneis e outras aberrações. Com uma estrutura de trilhos, como no caso de Porto Alegre, atendendo todos os bairros da cidade, hoje poderíamos ter um sistema de transporte aos moldes do alemão, sendo necessário apenas a modernização dos veículos e a interligação de linhas, de acordo com o crescimento da cidade. Tudo isso sem a necessidade de metrôs e obras faraônicas ou dos famigerados corredores de ônibus, com veículos em fila, com um serviço sofrível, indo a uma mesma direção, gerando poluição sonora e do ar.

sábado, 28 de maio de 2011

Epple See, o Lago

Fomos conhecer um dos muitos lagos que temos na nossa vizinhança, em um domingo ensolarado. Pegamos nossas bicicletas e lá fomos nós. Paisagem bonita, entre plantações e muito verde. Multidões de ciclistas por todos os lados. Centenas de bicicletas estacionadas ao lado de um bar: chegamos ao lago! Estacionamos, atravessamos as mesas do bar e descemos uma escada em direção ao lago. Surpresa!!!!! A maioria das pessoas estavam nuas! Sim, homens e mulheres, crianças, todos pelados! Meia volta, volver! Esta parte do lago é o FKK (Freie Körperliche Kultur), algo como cultura livre do corpo, naturismo, em bom português, como ficamos sabendo depois! E lá fomos nós para o outro lado do lago, onde todos estavam vestidos.

Il Centro

Nosso local preferido aqui em Mörsch (o “Stadtteil” - parte da cidade, bairro - da cidade de Rheinstetten, onde moramos) é o “Il Centro”. Uma Sorveteria/Café/Bar que descobrimos meio sem-querer. Em nossa primeira visita, estávamos falando em português entre nós, quando de repente o atendente nos responde também em português (de Portugal), já que a filha pequena dele falou-lhe que parecia que falávamos nesse idioma. O Luis Miguel, dono do local, casado com uma italiana, a Maria Cristina. Ficamos fregueses e lá conhecemos vários outros portugueses, imigrantes já de duas e três gerações. Sempre que sobra um tempo aparecemos para tomar um sorvete ou uma cerveja e conversar um pouco.


Leilão (Versteigerung)

Como nosso senhorio nos emprestou três bicicletas, ainda nos faltava uma, para o Rafael. Olhamos alguns preços de bicicletas usadas e nos assustamos. Como a bicicleta é uma instituição alemã, um veículo como outro qualquer, comprar uma bicicleta requer um investimento. Uma bicicleta nova não sai por menos de 300 euros! Uma usada, em bom estado, fica por volta de 100 euros. Foi quando soubemos, por intermédio de nosso senhorio, que haveria um leilão de bicicletas organizado pela prefeitura de Rheinstetten (cidade ao lado de Karlsruhe, onde moramos).

Um leilão? Lá fomos nós. Meia hora antes do início, teríamos a oportunidade de olhar todas as bicicletas que seriam leiloadas, e escolher aquela que mais nos agradasse. Feita a escolha, ainda teríamos que enfrentar o leilão e ter a sorte de conseguir aquela que queríamos. Quando foi a vez da “nossa bicicleta” os lances iniciaram em 15 euros. Esperamos então até que o valor chegasse perto dos vinte euros. Daí começamos a dar lances: vinte e dois, dissemos, vinte e três, disseram (os caras davam os lances de um em um). E assim foi indo até passar dos trinta, e havia, além de nós, mais dois interessados. Os lances começaram a subir e agora não mais de um em um. Trinta e cinco, disseram, trinta e oito, dissemos; quarenta disseram e então resolvemos atirar alto: quarenta e cinco, dissemos. Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três! A bicicleta era nossa!!!!!!

Entschuldigung!


Palavrinha difícil hein? Significa “desculpa” em alemão. Agora imaginem alguém bêbado tentando falar esta palavra. Pois é, lá estávamos nós na estação do “Straßenbahn”, voltando para um bar onde havíamos estado, já que a Déborah havia esquecido a bolsa lá. Descemos às pressas, falando alto, quando alguém pergunta, em português, se precisávamos de ajuda. Era uma brasileira, paulista, que mora aqui. Falamos o que havia acontecido e iniciamos aquela conversa básica sobre de onde éramos, o que estávamos fazendo aqui, quando, de repente, um alemão, totalmente alcoolizado, chega para nós e fala (ou tenta):

- Entschuldigung!!! Was für eine Sprache sprechen Sie? (Desculpe, mas qual língua vocês estão falando?)

O cara estava tão bêbado que pensou que estava ouvindo coisas. Quando respondemos que estávamos falando português, vimos a expressão de alivio em sua face. “Ufa, não estou tão bêbado assim, não estou ouvindo coisas”. Foi o que imaginamos que ele pensou!

E por falar em bebida, uma amostra dos vinhos que bebemos aqui! Franceses, italianos, espanhóis, chilenos, sul-africanos, romenos. Tudo custando menos de 2 Euros a garrafa, no supermercado!

O apartartamento (Die Wohnung) e os Heine


Conseguir um lugar para morar foi uma das nossas maiores dificuldades. Ainda no Brasil tivemos que providenciar o aluguel de um apartamento e nos deparamos com custos elevados, já que precisávamos de um com pelo menos dois quartos (o ideal seriam três), por causa das crianças. As opções eram diversas, sendo as mais interessantes, longe do centro de Karlsuhe, o que geraria custos com transporte. Sem falar que muitas ofertas não aceitavam crianças ou animais!!!!! Acabamos por aceitar uma oferta por intermédio da universidade e cá estamos nós morando na Begonien Straße, 6, em Mörsch, cujos proprietários são Herr e Frau Heine. E qual nossa surpresa quando nos deparamos com um apartamento grande, ensolarado, ventilado e muito bem equipado. Sem falar que toalhas, panos de prato e cobertas são fornecidos pelos proprietários. Flores por todos os lados e a geladeira cheia de sucos e cerveja. No quarto das crianças, pratos com chocolates e guloseimas. Belo marketing dos Heine, já que tínhamos pensado em trocar de apartamento depois de um mês, devido ao preço. Não tivemos coragem! E Herr Heine nos levou ao supermercado, ao banco e à escola das crianças, de carro. E nos emprestaram três bicicletas e a famosa “churrasqueira” elétrica. Afinal de contas um bom gaúcho não pode ficar sem o seu churrasco não é mesmo?



Chegada à Europa


Como a passagem dos bolsistas é comprada pela CAPES, pelo menor preço, acabamos vindo de TAP: Porto Alegre – São Paulo, São Paulo – Lisboa, Lisboa – Frankfurt. Aproximadamente vinte e quatro horas mal-acomodados e mal-dormidos. Na chegada a Lisboa, o “bom humor” do atendente da alfândega, perguntando sobre nossos vistos e nós explicando que de acordo com o consulado alemão, não necessitávamos de visto. Com toda a “simpatia” do mundo, falou-nos que então deveríamos nos entender com as autoridades alemãs. Na chegada a Frankfurt, aquele medo de que tivéssemos algum problema, já que trazíamos seis quilos de erva-mate e mais seis de feijão. Bagagens retiradas da esteira e nós a procura da alfândega alemã. Depois de muito rodar, perguntamos a um alemão para onde deveríamos nos dirigir. Qual a nossa surpresa quando ele nos disse que não deveríamos nos dirigir a lugar algum e que ali, na nossa frente, já estava a saída do aeroporto. Estávamos na Alemanha, com erva e feijão!!!!!